Segundo o filósofo Pierre Lévy, interface é:“...superfície de contato, de tradução, de articulação entre dois espaços, duas ordens de realidades diferentes”. Pode-se também, recorrer ao termo usabilidade para explicar, o que é este "meio de campo" entre o homem e a máquina.
Venho tratar deste assunto, caro leitor, porque considero um dos grandes problemas da tecnologia. Que é complicada e excludente, segregando cidadãos justamente pela interface complexa. Trata-se de um fenômeno, que nos faz refletir sobre a constante dificuldade que temos em lidar com a tecnologia. E principalmente, sobre as conseqüências disto e dos nossos direitos como usuários. Coisas que deveriam ser simples, muitas vezes tornam-se uma tormenta em nossas vidas, roubando nosso precioso tempo. Como no caso recente da maior produtora de software no mundo, quando vários clientes se obrigam a fazer um donwgrade, que ao contrário de upgrade, é uma regressão de versão. Seria mais ou menos como: Comprar um carro novo, mais ele é tão complicado de usar, que volta-se na loja e pega-se o antigo.
O professor Silvio Meira da Universidade Federal de Pernambuco, fala em "purgatório da tecnologia” e prevê que: “Um dia a tecnologia da informação será tão fácil de usar como a eletricidade.” Temo que não estaremos vivos para presenciar estes “tempos de paz” entre homem e as máquinas modernas. Há quem inclusive relacione a, impaciência, ansiedade, pressa, inquietação, irritação, desconcentração e por fim o stress, como efeito colateral desta tal de interface.
Na wikidedia temos uma boa comparação com os automóveis, explicando interface. O volante, os pedais e o câmbio são os métodos de entrada e o velocímetro, juntamente com o painel, são os dispositivos de saída. Neste contexto o homem está limitado a estes instrumentos de usabilidade. Um exemplo recente foi o trágico acidente da TAM, sobre o que, suspeita-se, tenha havido um sério problema de adaptação dos pilotos com os comandos da aeronave. Trata-se de uma possibilidade, que deixa um alerta sobre a importância desta questão. No ambiente computacional o homem é tratado como “liveware”, que deve interagir com o software (programa) e o hardware (máquina) num determinado ambiente. Os manuais de instruções deveriam ser lidos por todos, mas seus termos complexos e extensos desestimulam a qualquer cidadão. Pela definição da ISO (International Organization for Standardization) a interface, deve ser a extensão na qual um produto pode ser usado com efetividade, eficiência e satisfação. Queremos crer que no atual estágio, todos temos uma certeza.
Poucos são os equipamentos que cumprem o esta norma, bem como o Código do Consumidor. Para ser bom não pode ser complicado, para ser honesto tem que ser amigável. Será que, como consumidores, teremos que lembrar os fabricantes, todos os dias, que liveware é gente? E não simplesmente mais um ware? E pasmem caros leitores, a tradução de ware é: “um conjunto de peças ou ferramentas do mesmo tipo, usadas para o mesmo fim”. Viramos coisa!
* Tabelião de Notas em Curitiba, angelo@volpi.not.br, escreve todas as segundas nesse espaço.
Fonte: www.jornaldoestado.com.br
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