Estudo do IBGE mostra aumento no número de casais que deixam a formalidade do matrimônio civil ou religioso
Novas análises do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), referentes ao Censo 2010, mostram que os brasileiros têm mostrado cada vez menos formalidade na hora de compartilhar a vida. O número de casais que têm optado por uniões consensuais sem casamento aumentou de 28,6% em 2000, para 36,4%. Em contrapartida, o percentual de unidos por matrimônio no civil e no religioso caiu de 49,4% para 42,9%. Ainda de acordo com o estudo, a relação sem vínculo legal ou feita na igreja é mais comum entre pessoas com até 39 anos, das classes sociais menos favorecidas e entre negros e pardos.
Em todo o país, os laços sem oficialização foram observados em 48,9% das pessoas com rendimento domiciliar de até meio salário mínimo. Entre os indivíduos com mais de cinco salários mínimos, a porcentagem de uniões consensuais cai para 19,7%. Neste grupo, o que predomina são casamentos no civil e no religioso, que representam 64,2% dos matrimônios. A pesquisa destacou a forte incidência de alianças sem formalização nas regiões Norte e Nordeste. O Amapá é a Unidade da Federação que registrou o maior percentual do país, 63,5%, enquanto Minas Gerais teve o menor, com 25,9%.
De acordo com a professora do Departamento de Psicologia Clínica da Universidade de Brasília (UnB) Gláucia Diniz, a informalidade presente nas classes sociais mais baixas é uma questão histórica. “Os processos de colonização portuguesa foram marcados pela segregação social”, explica a docente. “Pessoas pobres, em especial, negros e índios, não tinham acesso às instituições — não podiam frequentar a igreja, por exemplo — nem tinham condição financeira para se casar formalmente.” Para a supervisora de Disseminação de Informação do IBGE Sônia Maciel, o aumento das uniões consensuais está relacionado às mudanças nos padrões familiares. “Existe uma abertura muito maior aos novos arranjos familiares. Esse tipo de união é mais econômica e prática.”
As convicções religiosas também influenciam no tipo de relação. Do total de pessoas em união consensual, 59,9% declararam-se sem religião, enquanto o casamento no civil e no religioso foi a opção de 44,7% dos católicos e 46% dos evangélicos. É o caso do casal de revisores Gabriel Guimarães, 27 anos, e Mariana Moura, 25. Eles moram juntos há um ano e meio no Rio de Janeiro. Nascidos em Brasília, os dois se conheceram no curso de Letras da UnB e namoram há dois anos e meio. Gabriel explica que, embora sinta-se casado, não tem a intenção de oficializar a união com uma cerimônia tradicional. “Podemos até casar no civil, mas não no religioso.”
O desejo de ter a relação oficializada sem as complicações relacionadas ao planejar um casamento foi o que levou o servidor público aposentado Elias Ricardo de Araújo, 77 anos, e a dona de casa Gerolina Sacramento de Jesus, 66, ao cartório para assinar o contrato de união estável. Os dois moram juntos há 25 anos e têm um filho de 26. “Casamento envolve muita burocracia. Assim é mais rápido. Não temos mais idade para esperar”, afirma Gerolina. Há 34 anos em Brasília, Elias teria de buscar sua Certidão de Nascimento original onde nasceu, na Paraíba, para casar-se.
Campeão
Em 10 anos, o número de divorciados no Brasil quase dobrou, passando de 1,7% em 2000, para 3,1% em 2010. Entre as unidades da federação, o Distrito Federal é líder do ranking, com percentual de 4,2% de pessoas divorciadas, seguido do Rio de Janeiro, com 4,1%. A pesquisadora Sônia Maciel associa esse crescimento no número de separações à maior frequência de relações consensuais. “É um relacionamento que é mais fácil de acontecer e também de desfazer”, ressalta.
A pesquisa do IBGE também apontou redução no número de casais brasileiros com filhos: se, em 2010, eles representavam 56,4% das famílias, hoje são 49,4%. O número de casais sem filhos também cresceu em 10 anos: de 14,9% para 20,2%. Para professora de psicologia Gláucia Diniz, essa tendência está relacionada a uma mudança na função do casamento e da família. “Hoje as pessoas se casam porque querem compartilhar a vida com alguém, independente da presença de filhos. Antes, ter filhos era uma obrigação e o uso de contraceptivos era restrito ou até inexistente.”
Fonte: Site do Correio Braziliense
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