O boom imobiliário, que tirou milhares de brasileiros do aluguel nos últimos anos, começa a cobrar a fatura. O valor de mercado da maioria das construtoras listadas na Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa) caiu entre 2008 e 2009 e suas dívidas cresceram. Com as margens de lucro encolhidas pelos custos elevados de insumos e da mão de obra, o endividamento das empresas de capital aberto somou R$ 17 bilhões no último ano, resultado 261,7% maior do que verificado em 2007, de R$ 4,7 bilhões. Diante desse quadro, as companhias ficaram sem espaço para erros em suas projeções financeiras. Problemas de gestão deixaram pequenas e médias empreiteiras na corda bamba e os consumidores correm o risco de o sonho da casa própria virar pesadelo.
Ainda que o quadro não seja motivo para alarde, é preciso atenção. No desejo de acompanhar o ritmo de oferta de crédito - R$ 50 bilhões em 2009, somando recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e da caderneta de poupança -, algumas construtoras de menor porte quebraram recentemente, por expandirem seus negócios sem critérios. Com muitos empreendimentos em curso e mal planejados, ficaram sem capital de giro suficiente para manter a fluxo das obras e entregar os imóveis no cronograma acertado com a clientela.
O que preocupa os analistas é que a situação pode se agravar, pois o desequilíbrio financeiro tende a ser potencializado pelo aumento crescente dos custos de mão de obra e de materiais. Nos últimos 12 meses, o Índice Nacional do Custo da Construção (INCC), calculado pela Fundação Getulio Vargas, acumulou alta de 5,35%. Isoladamente, os trabalhadores ficaram 9,79% mais caros. Para tentar contornar esses custos maiores, as empresas menos responsáveis podem acabar ferindo a legislação e metendo os pés pelas mãos. O prejuízo, é claro, ficará com os consumidores, que serão pegos de surpresa quando os prazos de entrega não forem cumpridos. Quando isso acontecer, os donos dessas companhias, como de praxe, terão desaparecido.
Esse enredo de desequilíbrio atingiu em cheio a J. Martini Construtora e Incorporadora. Desde 2006, ela amarga dezenas de processos judiciais por parte de fornecedores, empregados e clientes em cinco empreendimentos - todos sem memorial de incorporação registrado - em Águas Claras, região administrativa do Distrito Federal, um dos maiores canteiros de obras do Brasil. Um ex-funcionário da empresa relata os problemas resultantes da má gestão.
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